sábado, 15 de outubro de 2011

A CURA DA LOUCURA: ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO, O ARTISTA DO FIO.









Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba, Sergipe.

Presume-se que tenha vivido por cerca de 80 anos - não se sabe exatamente o ano de seu nascimento. Desses, 50 foram vividos como interno da Colônia Juliano Moreira, antigo manicômio carioca, sendo 25 ininterruptamente, até sua morte em 1989.
Negro, neto de escravos, pobre e migrante, tentou sobreviver no Rio de Janeiro como servente, caseiro, porteiro de edifício, funcionário da antiga Light e segurança de políticos, até ser sentenciado como “louco do tipo esquizofrênico paranóico”. Num contexto marcado pela ascensão do fascismo – inclusive no Brasil, onde a então atuante Liga Brasileira de Higiene Mental adotava uma política higienista, racista e xenófoba –, foi submetido a lobotomia, eletrochoques e castigos por uma psiquiatria que tratava de mutilar e excluir os que incomodavam a ordem reinante.
Sua obra veio a conhecimento público, em seu conjunto, apenas após sua morte – e o que se viu foi um legado artístico de imensa originalidade, profunda criatividade temática e diversidade de formas e materiais, trazendo à luz uma vida até então desconhecida e cujo entendimento passa pela arte, e não pela loucura.
Apropriando-se conscientemente de seu exílio como forma de viabilizar sua auto-expressão, Bispo do Rosário transformou em arte todo e qualquer recurso material que teve à mão, demonstrando de maneira incontestável a capacidade inata que tem o homem de criar – a despeito de dificuldades técnicas, materiais, de conhecimento teórico ou de história pessoal. Pelas mãos do artista, garrafas, pentes, moedas, sapatos, canecas, colheres, vassouras, pedaços de tecidos (tirados de lençóis), linhas (para bordar, proveniente do desmanche de uniformes dos internos), deixavam sua função original para se tornarem veículos de sua obsessiva busca por ordenamento, estrutura e ritmo do tempo e do pensamento.
Bispo do Rosário tinha a capacidade de incorporar um objeto de sua vida de confinamento e transformá-lo num objeto simbólico de sua auto-expressão, mistério, beleza e liberdade. Deparar-se com qualquer desses objetos é uma experiência invariavelmente carregada de grande emoção, pois, não bastasse sua desconcertante beleza plástica, neles reconhecemos formas, palavras e significados que dialogam silenciosamente com a alma humana,despertando sentimentos universais e questionamentos existenciais.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...